sábado, 28 de junho de 2008

Barbárie Contra Jovem Indígena

INFECÇÃO GENERALIZADA

PF já foi acionada para apurar caso de índia morta após violência sexual

Chico de Gois - O Globo; Agência Brasil

Globo Online

BRASÍLIA - O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse nesta sexta-feira que a Polícia Federal vai investigar 'rigorosamente' a morte da índia Jaiya Pewewiio Tfiruipi Xavante, de 16 anos. Segundo o ministro, a PF vai tratar o caso da mesma forma que faz em relação a todos os delitos de sua competência. Vai investigar rigorosamente e, quando estiver pronto o processo, levar ao MP, à Justiça, para que a punição devida e compatível com a barbárie que o crime representa seja dada - disse Tarso Genro.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) da Polícia Civil do DF constatou vestígios de violência sexual provocado por objeto contundente, introduzido no ânus e na vagina da indígena. O objeto, de acordo com o laudo, perfurou o baço, estômago e diafragma da indígena, causando infecção generalizada. Ela morreu na quarta-feira, durante uma cirurgia no Hospital Universitário de Brasília (HUB), após duas paradas cardíacas.

O ministro lamentou a violência contra os indígenas:
- Talvez a novidade seja o grau de violência e barbárie individual de alguns delitos. Um deles ocorreu aqui em Brasília também há pouco tempo. O que temos de fazer é trabalhar não só para manter e aprofundar a qualidade de política indigenista que o governo está desenvolvendo, como também desenvolver o trabalho técnico, forte, da PF, para dar punições exemplares em delito como esse.

Tarso Genro admitiu que casos de violência contra índios não são novidade. Questionado sobre como o governo pretende mudar essa realidade, o ministro respondeu que seria necessário desenvolver trabalho forte da Polícia Federal para dar punições exemplares.

Índios são suspeitos de causar morte da adolescente

A Polícia Civil do Distrito Federal, até agora responsável pela investigação do caso, suspeita que Jaiya foi violentada por um ou mais índios que estavam hospedados na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) do Distrito Federal, a mesma em que a adolescente se encontrava. O delegado Antônio Romeiro, da 2 Delegacia de Polícia, trabalha com a hipótese de a adolescente ter sido vítima de um sacrifício.

O delegado disse que vai consultar antropólogos para saber se, entre os xavantes, é comum o assassínio de parentes com alguma deficiência física. A adolescente teve meningite na infância e se locomovia em cadeira de rodas.

- Vamos conversar com um especialista - disse ele.

As suspeitas sobre o envolvimento de índios na morte de Jaiya surgiram depois dos primeiros interrogatórios. Em depoimento à polícia, a mãe da adolescente, Carmelita, e a tia, Maria Imaculada Xavante, disseram que Jaiya não sofreu qualquer agressão.


No dia do crime, 60 índios estavam no abrigo. O delegado já interrogou alguns índios e, agora, pretende ouvir os demais hóspedes da Casai. Muitos deles já retornaram às aldeias. Romeiro vai chamá-los para depor em Brasília. Se não quiserem vir, o delegado disse que pode fazer os interrogatórios nas próprias aldeias.

Também estavam em Brasília duas outras filhas de Carmelita. Jaiya foi atacada entre 24 hoas e 48 horas antes de ser socorrida e, nesse período ficou na Casai, o que reforça a suspeita de que a violência sexual, foi cometida por outros índios. O corpo de Jaiya seguiu para o enterro em Mato Grosso.

O presidente da Fundação Nacional do Índio ( Funai) , Márcio Meira, lamentou nesta sexta-feira a morte da jovem e afirmou que todas as providências para encontrar os culpados esão sendo tomadas juntamente com a Fundação Nacional de Saúde (Funai) .

- cabe à Funai dar todo o suporte à família da jovem e providenciar o apoio jurídico necessário junto com a Funasa. Estamos trabalhando para apurar o que ocorreu. A Polícia Federal vao proceder com o inquérito para que os culpados sejam punidos.

O secretário executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Telles Barreto, também lamentou a morte da jovem indígena, durante uma solenidade do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci) , no ministério.

- foi muito brutal (o crime). Estamos todos aqui no Ministério da Justiça muito chocados e a Polícia Federal vai ajudar nas investigações.

Jaiyra Xavante vivia desde o dia 28 de maio na Casai, localizada próximo ao Gama, a cerca de 40 quilômetros de Brasília. A garota tinha lesão neurológica. A xavante era da aldeia São Pedro, no município de Campinápolis (MT), e estava em Brasília para tratamento médico.

Em 2007, nove casos de violência sexual contra indígenas

No ano passado, nove indígenas foram vítimas de violência sexual no Brasil, quatro deles menores de 18 anos. Foram oito casos de estrupo e um de tentativa. Em três ocorrências, os acusados também eram indígenas. Os dados fazem parte do relatório " A violência contra os povos indígenas no Brasil ", publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

De acordo com o levantamento, os números registrados em 2006 foram ainda piores. A instituição chegou a constatar 12 ocorrências de violência sexual contra indígenas. Casos de aliciamento, estrupo e de tentativa levaram a um total de dez vítimas em todo o país.

Entre os casos de mais destaque no ano passado está o de um índio de 22 anos da etnia Guarani Kaiowá. No mês de setembro, ele foi espancado e violentado por outros cinco jovens - quatro deles menores de idade - na aldeia Bororo, no Mato Grosso do Sul

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